
Quem acompanhou as aventuras de parte da nossa equipe do site na ultima semana (24 a 29 de outubro) através das postagens na nossa Fanpage e Instagram, sabe que estivemos no berço do karate, a Província de Okinawa, um grupo de ilhas ao sul do Japão, com praias lindas e exóticas, povo receptível e muito karate.
O reino de Ryukyu (antigo nome de Okinawa) foi fundado por volta do fim do século 14, e logo se tornou um reinado importantes, pois o arquipélago situado no Mar da China Oriental era um porto natural e praticamente uma parada obrigatória para todos que navegavam nas imediações. Como toda terra portuária, o comércio e intercâmbio cultural era enorme, povos de muitos lugares interagindo com os nativos, desenvolvendo a cultura local, influenciando no comportamento diário, assim como na música, danças, culinária, moda e claro, formas e técnicas de proteção ao reino.
Foi assim que nasceu o “To -Di”, ou To-de (em japonês), uma forma de luta local, que influenciada por culturais externas, evolui para uma forma de combate que mais tarde serviria para proteger não somente a classe menos desfavorecida , como também a classe aristocrata e até mesmo a família real.
Por um bom período Kyuryu foi em partes colônia chinesa, nação que mais influenciou o arquipélago, inclusive vários funcionários públicos do governo de Ryukyu eram chineses ou descendentes de chineses. Segundo a historia, 36 famílias chinesas oriundas da província de Fujian (China), foram enviadas pelo Imperador Chinês Ming (Dinastia Ming 1368–1644), entre os enviados haviam políticos, funcionários e militares.
Tudo isso contribuiu para o surgimento do To-Di, pois periodicamente juncos chineses (enormes embarcações) eram mandados para o arquipélago para manter sempre os laços estreitos entre ambos e para receber os tributos que Ryukyu pagava à China.
Que tal ir para Okinawa bem vestido? Dogi Towakai é elegância conforte e tradição.
Muitas dessas visitas serviram para o intercâmbio de estratégias e técnicas militares, como por exemplo o próprio kata KUSHANKU ( Série Kanku do shotokan), segundo os relatos históricos, Kushanku era um mestre de Wushu (武術 -arte da guerra) e militar. Após uma apresentação dada por ele na sua visita ao reino, mestres de To-di que estavam presentes na apresentação, desenvolveram este kata baseado nos movimentos demostrados pelo mestre Kushanku, e foi nomeado com seu nome em sua homenagem.

A presença da China tanto na cultura , vestimenta, arquitetura, culinária e arte marcial em Okinawa é notada até os dias de hoje. Minha primeira impressão ao sair do aeroporto e ver a paisagem de Naha¹ foi de que eu não estava no Japão, País onde resido há mais de 10 anos.
Em 2015 tive a oportunidade de morar em Beijing por alguns meses, e graças à isso notei várias semelhanças entre Okinawa e China, não somente na cultura como também na aparência e comportamento dos locais.
O reino de Ryukyu foi dominado no século 16 pelo clã Shimazu a pedido do imperador japonês, mas somente no século 18 na era Meiji que ele foi anexado oficialmente ao Japão, passando a ser conhecida por Okinawa.

Foi nesse período que os japoneses conheceram o To-di, através das mãos de mestres do arquipélago e particularmente de um estudante aplicado, fluente em idioma chinês, japonês e aluno de dois dos principais mestres de To-di , Gichin Funakoshi.
Foi também nesta época que o nome karate² (唐手) , outro nome para o To-Di mas como referência à dinastia chinesa Tang, passou a se chamar karatedo (空手道). Esta mudança foi decidida em uma reunião promovida pelo jornal do arquipélago, o Ryukyu ” Shinpo²”, com os principais mestres da época, no ano de 1936. Essa história eu irei contar na próxima semana.
Em 1945 após a segunda grande guerra, mais uma vez o arquipélago foi tomado, desta vez pelos americanos, sendo separada do Japão e assim permaneceu por um período de 27 anos.
Alguns mestres de karate de Okinawa e pessoas ligadas ao museu do karate, me relataram que esse período foi o responsável pela separação do karate em dois, o karate japonês e o Karate tradicional de Okinawa, pois o intercâmbio entre eles foi interrompido, já que era necessário passar por uma burocracia para poder viajar entre os territórios, fazendo com que o karate da ilha e do Japão, tomassem rumos muito diferentes.
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Ainda hoje muitos mestres de Karate se consideram “Ryukyujin” (povo de okinawa) e não japoneses, não somente pelo fato de que no período de dominação americana, os nascidos era registrados como nativos de Okinawa e ao invés de japoneses, mas como também em protesto e tentativa de resgate das tradições, histórias e alguns costumes do antigo Reinado. Alguns nativos nascidos nesse período ainda possuem o antigo passaporte de Okinawa.
O governo Japonês juntamente com o governo da província, vem desenvolvendo vários projetos para a melhora da infraestrutura para a prática e desenvolvimento do karate. O Karate Kaikan* é um destes projetos, um complexo onde comporta área para eventos, treinamento e um luxuoso museu dedicado ao karate e kobudo, além de competições e total assistência para os karateka* que vão ao arquipélago para aprender mais sobre a arte das mãos vazias.
E assim, através dessa publicação de hoje, nosso site começa o relato dessa aventura de seis dias em Okinawa, as aventuras de Pinto San e Ibata sensei (Ibata Dojo- Hamamatsu) desbravando e aprendendo mais sobre nossa querida arte marcial.
Vem com a gente.
Ossu!
*Nosso site segue o sistema Hepburn de transcrição do idioma japonês para o alfabeto romano, e este desconsidera a regra da língua portuguesa que determina o emprego da consoante M antes das P e B e o emprego do N no fim de palavras com pronuncia fechada. 1- Naha – NARRA – Uma das cidades da província. 2 – Apesar da mesma pronúncia, a palavra karate era escrita com os kanji referente à dinastia chinesa Tang – 唐手 , hoje é usado o kanji para a palavra vazio -空手, o sufixo DO foi uma exigência da Dainippon butokukai para aceitar a arte de Ryukyu como arte marcial japonesa. 3 – Palavra karateka não faz parte da língua portuguesa, logo não segue as regras de plural.
De super importancia para quem quer aprender sobre karate!
Parabéns sensei Daniel (Pinto San) pelo ótimo trabalho
Osu
http://www.facebook.com/ckscaragua em meu nome agradece em aprendeu um pouco da História do Karate
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Muito instrutivo Daniel
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excelente narrativa. aguardando as próximas. Osu!
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Osu , ótimo conteúdo . Acredito que é de suma importância para os praticantes de karate Do , sobretudo para que ministra aula e curso afins ter conhecimento além da aplicabilidade prática onde desta forma manteremos vivo a história . “Compreender o velho e intender o novo ” Oss, Osu ,hi muito grato a Pinto san . Que o criador Deus continue abençoando tu e tua família .
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Excelente texto Pinto San.
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Boa noite ! Ótimo artigo! Acompanhei sua jornada em Okinawa no Facebook. Grande abraço! Osu!
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Muito obrigado pinto san sensei! Por compartilhar tais conhecimento conosco! Parabéns pelo belo trabalho! Ossu!
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Osu! Ouvi todas as rádio Karatê sobre a expedição de vocês a Okinawa e eu queria saber como eles vêem Funakoshi sensei por lá? Como é ou o que representa a figura dele? Porque para nós do Karatê Shotokan ele tem todos os créditos, é uma autoridade máxima no Karatê, é o salvador… ou seja, é um “Deus” do Karatê, pelo menos pra mim. E lá em Okinawa, como é, já que tem tantos estilos e mestres em suas artes? Osu!
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Oss! Bom dia sensei Pinto San , do modo geral, como está sendo visto a inclusão do Karatê Do nas Olimpíadas pelos grandes mestres ai do Japão?
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Muito foda é pouco!
É Pinto San, referência na raiz do Karatê.
Osu!
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Muito bom este artigo, parabéns! Muito obrigado por partilhar a experiência e conhecimento…..osu
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O Karate não nasceu na India ???
Oss
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Ouvi sua entrevista sobre o 10 Dan na JKA na rádio Karaye, parabéns pelas ponderações.
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